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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Encontro com o Conferencista Romeu Kazumi Sassaki

Valéria Júlio, Saionara, Romeu Sassaki e Márcia


Noticia do Fórum de EPT INCLUSIVA


Música marca abertura do Fórum de Educação Inclusiva


Música, muito animação e alegria. Foi nesse ritmo alegre que o Fórum de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva foi aberto, na noite dessa segunda-feira, 27 de agosto, no teatro da Fundação Universa. Durante quase duas horas de show, o músico David Valente levantou o público com um variado repertório de músicas nacionais e internacionais.

David Valente animou o público na abertura do Fórum Distrital de Educação Inclusiva.
David Valente animou o público na abertura do Fórum Distrital de Educação Inclusiva.

David é portador de uma deficiência físico-motora congênita que o impossibilita de usar as mãos normalmente. Mas isso não foi impedimento para ele se tornar um grande cantor, músico e produtor musical. Utilizando os pés, David toca teclado, e com uma voz inconfundível embalou grandes sucessos musicais.

A Coordenadora de Educação Inclusiva do IFB, Girlane Florindo, conta que já conhecia o trabalho de David e que, além de ser um grande artista, sua história de vida inspira motivação e força de vontade. “Nos nossos eventos em que a temática é inclusão, sempre buscamos uma apresentação cultural feita por uma pessoa com deficiência. E o David é realmente uma pessoa especial, com talentos e habilidades incríveis”, afirma a coordenadora.



Cerimônia

Antes do início do show musical, foi realizada a cerimônia de abertura oficial do evento com a participação do reitor do Instituto Federal de Brasília (IFB), Wilson Conciani, do deputado distrital, Wasny de Roure, da subsecretária de Políticas de Educação Profissional e Tecnológica, Vânia do Carmo Nóbile, e da subsecretária de Estado da Educação, Sandra Zita.


Conciani espera que desse Fórum saiam contribuições para aumentar as ações inclusivas dentro do IFB. “Precisamos de duas grandes contribuições: uma são orientações para gestão – que o Fórum possa indicar a direção das estratégias que venham a ser adotadas pela gestão para que tenhamos condição, de fato, de fazer uma educação inclusiva –; a segunda é mobilizar docentes e estudantes, no que diz respeito a essa temática”.

As atividades se estendem até a próxima quinta-feira, 30, com palestras, mesas-redondas, posters, entre outras atividades, sempre tendo como temática central ações inclusivas dentro da rede federal (clique aqui e acesse a programação completa).

O Fórum será encerrado com uma plenária final, a partir da qual um relatório será elaborado e encaminhado à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), indicando as perspectivas da comunidade.





Encontro com Romeu Sassaki


 I Fórum de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva (EPT Inclusiva). O evento contará com a presença do Professor Romeu Kazumi Sassaki, conhecido nacionalmente pelo seu extenso trabalho com programas de inclusão. Romeu é graduado em Serviço Social com especialização em Aconselhamento de Reabilitação e já trabalha há mais de 50 anos com pessoas com necessidades especiais.
Professor Romeu Sassaki será palestrante do I Fórum de Educação Inclusiva (Foto: Instituto Hélio Goes).
Professor Romeu Sassaki será palestrante do I Fórum de Educação Inclusiva
Romeu falou com a Comunicação do IFB sobre a sua primeira experiência com pessoas deficientes, a expectativa da participação no evento e sobre a atual realidade da inclusão na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Conheça um pouco mais sobre Romeu Sassaki, palestrante de abertura do I Fórum de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva.

IFB: Como você avalia a atual realidade da inclusão de pessoas com deficiência dentro da rede federal?

RKS: Tendo acompanhado durante vários anos o trabalho de formação profissional da rede federal brasileira, em paralelo com o que estudei em países como os EUA, Grã-Bretanha, Japão, Espanha e Itália, entendo que a inclusão de pessoas com deficiência nesta esfera governamental constitui uma realidade bem formulada e bem executada, portanto, bem sucedida. Vejo-a no mesmo nível de qualidade dos países mencionados. Mas, reconheço que nos falta o mesmo nível de quantidade em programas, ou seja, proporcionalmente ao tamanho geográfico e demográfico do Brasil e de cada estado da federação.

IFB: Quais os principais temas que serão abordados na sua participação no evento?

RKS: No Fórum Distrital de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, do Instituto Federal de Brasília/MEC/Setec, a minha palestra se intitula “Formação Profissional e as Pessoas com Deficiência – Caminhos e Possibilidades”. Pretendo fazer uma releitura do conceito de “formação profissional” com base no paradigma da inclusão social das pessoas com deficiência, apoiando-me no documento internacional “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência” e nos mais recentes decretos e leis do Brasil. A Convenção é da ONU e foi ratificada, com valor de emenda constitucional, através do Decreto 186, de 9/7/2008, pelas duas casas do Congresso Nacional e promulgada mediante o Decreto 6.949, de 25/8/2009, da Presidência da República. Também pretendo discutir sobre os novos caminhos e possibilidades que o renovado conceito de “formação profissional” apresenta aos alunos, professores, gestores e especialistas. Um desses caminhos e possibilidades é a metodologia “emprego apoiado”, que consiste em emprego competitivo para o qual se exige um enfoque inclusivo na prática da formação profissional e da colocação labora. Outro ponto da palestra será a necessidade de selarmos parcerias entre iniciativas governamentais e não-governamentais pelo objetivo comum: a inserção em qualidade e quantidade dos formandos no mercado de trabalho.

IFB: Na sua avaliação, qual a importância de eventos como esse para o debate dessa temática dentro da rede federal?

RKS: A rede federal – assim como a estadual e a municipal – tem sido alvo, com frequência, de cobranças e expectativas por parte dos estabelecimentos de ensino, dos familiares de alunos e das empresas que contratam profissionais qualificados. Esses três setores desejam e precisam saber o que está disponível, oficialmente, em termos de formação profissional. Ao mesmo tempo, há pouca divulgação massiva (não necessariamente em forma de propaganda de governo) sobre os cursos, os conteúdos programáticos, as metodologias didáticas, as abordagens teóricas ou ideológicas, os endereços, os pré-requisitos exigidos etc. O atual evento, como nas edições anteriores, vem a preencher essa importante lacuna. Daí a sua significância inegável.

IFB: Como você iniciou o seu trabalho com pessoas que necessitam dessa inclusão?

RKS: Profissionalmente, a minha atuação especializada junto a pessoas com deficiência começou em uma empresa de 1960 a 1962 e no Instituto de Reabilitação da Universidade de São Paulo entre 1963 e 1973, prestando serviços de aconselhamento para  o trabalho, treinamento profissional e colocação laboral. De 1974 aos dias de hoje, passei a realizar colocações laborais somente em casos mais complexos e me dediquei cada vez mais a ministrar consultorias, cursos e palestras, assim como a escrever textos técnicos sobre educação, emprego, lazer, turismo, mídia, acessibilidade e temas afins, em relação a pessoas com deficiência. Desde a minha infância até 1959, tive a oportunidade de conviver naturalmente com amigos e colegas com deficiência em ambientes comuns, hoje denominados ‘inclusivos’. Aprendi que esta experiência ‘inclusiva’ me ajudou a começar, com naturalidade e facilidade, a minha vida profissional, na década de 60.

FÓRUM DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INCLUSIVA DISTRITAL



De 27 a 30 de agosto, o Instituto Federal de Brasília (IFB) irá promover o Fórum Distrital de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, que acontecerá no auditório da Fundação Universa, na quadra 610 norte, em Brasília. O evento tem como objetivo identificar as perspectivas da comunidade interna e externa quanto à inclusão na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

O Fórum trará, entre outras atrações, painéis, apresentações de posters, palestras, mesas-redondas e debates (confira a programação completa do evento). Na abertura, o evento contará com a presença do professor Romeu Sassaki, que ministrará  palestra a respeito do tema “Formação Profissional e as Pessoas com Deficiência – caminhos e possibilidades”.

No evento também serão apresentados relatos de experiências exitosas de egressos da Rede Federal de Educação Tecnológica e experiências inclusivas educacionais que envolvem outras ações inclusivas, direcionadas às questões étnico-raciais, mulheres, educação de jovens e adultos. O Fórum será encerrado com uma plenária final, a partir da qual um relatório será elaborado e encaminhado à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC),  indicando as perspectivas da comunidade.

O Fórum está sendo organizado pela Pró-Reitoria de Extensão do IFB, por meio da Coordenação de Educação Inclusiva e dos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNEs).













terça-feira, 21 de agosto de 2012

Inclusão e Dislexia



A educação é um direito de todos e PARA TODOS; para isso a escola deve se adequar às necessidades educacionais de seu alunado. Necessidades Educativas Especiais não é sinônimo de deficiência como muitos ainda pensam... leia um trecho da Resolução que trata deste assunto:



RESOLUÇÃO CNE/CEB No. 02/2001 Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica


Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o
processo educacional, apresentarem:
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que
dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;
b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;
II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a
utilização de linguagens e códigos aplicáveis;
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar
rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.


Definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula. Pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 05% e 17% da população mundial é disléxica.

Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico.

Por esses múltiplos fatores é que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais efetivo das dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados mais concretos.

Sinais de alerta:
a dislexia é genética e hereditária, se a criança possuir pais ou outros parentes disléxicos quanto mais cedo for realizado o diagnóstico melhor para os pais, à escola e à própria criança. A criança poderá passar pelo processo de avaliação realizada por uma equipe multidisciplinar especializada, mas se não houver passado pelo processo de alfabetização o diagnóstico será apenas de uma "criança de risco".

Haverá sempre:
- dificuldades com a linguagem e escrita ;
-dificuldades em escrever;dificuldades com a ortografia;
-lentidão na aprendizagem da leitura;

Haverá muitas vezes:
-disgrafia (letra feia);
-discalculia, dificuldade com a matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e de decorar tabuada;
-dificuldades com a memória de curto prazo e com a organização’;
-dificuldades em seguir indicações de caminhos e em executar seqüências de tarefas complexas;
-dificuldades para compreender textos escritos;
-dificuldades em aprender uma segunda língua.

Haverá às vezes:
-dificuldades com a linguagem falada;
-dificuldade com a percepção espacial;
-confusão entre direita e esquerda.

Pré escola 
Fique alerta se a criança apresentar alguns desses sintomas:
-Dispersão;
-Fraco desenvolvimento da atenção;
-Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;
-Dificuldade em aprender rimas e canções;
-Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
-Dificuldade com quebra cabeça;
-Falta de interesse por livros impressos;
-O fato de apresentar alguns desses sintomas não indica necessariamente que ela seja disléxica;

há outros fatores a serem observados. Porém, com certeza, estaremos diante de um quadro que pede uma maior atenção e/ou estimulação.

Idade Escolar
Nesta fase, se a criança continua apresentando alguns ou vários dos sintomas a seguir, é necessário um diagnóstico e acompanhamento adequado, para que possa prosseguir seus estudos junto com os demais colegas e tenha menos prejuízo emocional:
- Dificuldade na aquisição e automação da leitura e escrita;
-Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
-Desatenção e dispersão;
-Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
-Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pintura) e/ou grossa (ginástica,dança,etc.);
-Desorganização geral, podemos citar os constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares e perda de materiais escolares;
-Confusão entre esquerda e direita;
-Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas, etc.;
-Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou sentenças longas e vagas;
-Dificuldade na memória de curto prazo, como instruções, recados, etc.;
-Dificuldades em decorar seqüências, como meses do ano, alfabeto, tabuada, etc.;
-Dificuldade na matemática e desenho geométrico;
-Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomias);
- Troca de letras na escrita;
-Dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua;

Problemas de conduta como: 
- Depressão, timidez excessiva ou o ‘’palhaço’’ da turma;
- Bom desempenho em provas orais.Se nessa fase a criança não for acompanhada adequadamente, os sintomas persistirão e irão permear a fase adulta, com possíveis prejuízos emocionais e conseqüentemente sociais e profissionais.

Adultos

Se não teve um acompanhamento adequado na fase escolar ou pré-escolar, o adulto disléxico ainda apresentará dificuldades:
- Continuada dificuldade na leitura e escrita;
- Memória imediata prejudicada;
- Dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua;
- Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia);
- Dificuldade com direita e esquerda;
- Dificuldade em organização;

Aspectos afetivos emocionais prejudicados, trazendo como conseqüência: depressão, ansiedade, baixa auto estima e algumas vezes o ingresso para as drogas e o álcool.

DIAGNÓSTICO
Os sintomas que podem indicar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem, não confirmam a dislexia. E não pára por aí, os mesmos sintomas podem indicar outras situações, como lesões, síndromes e etc.Então, como diagnosticar a dislexia?Identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa, deve se procurar ajuda especializada.Uma equipe multidisciplinar, formada por Psicóloga, Fonoaudióloga e Psicopedagoga Clínica deve iniciar uma minuciosa investigação. Essa mesma equipe deve ainda garantir uma maior abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais, como Neurologista, Oftalmologista e outros, conforme o caso.A equipe de profissionais deve verificar todas as possibilidades antes de confirmar ou descartar o diagnóstico de dislexia. Outros fatores deverão ser descartados, como déficit intelectual, disfunções ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais (congênitas e adquiridas), desordens afetivas anteriores ao processo de fracasso escolar (com constantes fracassos escolares o disléxico irá apresentar prejuízos emocionais, mas estes são conseqüências, não causa da dislexia).

Há algum método ou linha eficaz?
Não há nenhuma linha de tratamento que seja considerada ‘’a melhor’’ ou ‘’a única’’. O importante é a aceitação e adaptação do próprio disléxico à linha adotada pelo profissional. O que podemos dizer é que como a principal característica dos disléxicos é a dificuldade da relação entre a letra e o som (Fonema -Grafema), na terapia deverá ser enfatizado o método Fônico. Deve-se também treinar a memória imediata a percepção visual e auditiva. É sugerido que se adote o método multissensorial, cumulativo e sistemático. Ou seja, deve-se utilizar ao máximo todos os sentidos. Um exemplo básico é poder ler e ouvir enquanto se escreve. O disléxico assimila muito bem tudo que é vivenciado concretamente.

Fonte:ABD - Associação Brasileira de Dislexia http://www.abd.org.br/



FALAR COM AS MÃOS - DEFICIÊNCIA AUDITIVA


Edição 221 Abril 2009 (Nova Escola - Veja reportagem completa)

Levar os surdos para a sala regular exige nova postura do professor, tato para lidar com o intérprete e, acredite, muitas explicações orais

O VALOR DA FALA NAS AULAS COM SURDOS




A professora de Geografia Marilda Dutra, de São José, na Grande Florianópolis, aprendeu rápido que o uso do quadro-negro precisa ser revisto. Acostumados com a comunicação oral, os alunos com deficiência têm maiores dificuldade para ler. "Quando escrevo, é mais difícil perceber quem entendeu. Se explico, vejo no rosto de todos (dos que escutam e não) se estão acompanhando. Desenho e gesticulo o quanto precisa.".



A inclusão de crianças com deficiência auditiva sempre foi polêmica, mas recentemente ganhou um novo rumo em nosso país. De acordo com a política do governo federal, elas não devem mais ficar segregados nas escolas especiais e precisam estudar desde cedo em unidades comuns, com um intérprete que traduza todas as aulas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e o contraturno preenchido por atividades específicas para surdos. Problema resolvido? Nem de longe. Enquanto entidades do setor ainda denunciam a falta de estrutura para a implementação das regras, os docentes já começam a receber parte dessa nova clientela e estão criando formas próprias de trabalho - muitas com sucesso. Não é uma tarefa fácil nem existe uma fórmula conceitualmente correta para lidar com a situação. Cada caso é um caso. A professora de Geografia Marilda Dutra, da EE Nossa Senhora da Conceição, em São José, na Grande Florianópolis, por exemplo, aprendeu uma lição curiosa logo nos primeiros dias de trabalho. Para ensinar quem não ouve, ela tem de falar mais. A maior mudança foi deixar o giz em segundo plano. Cada tipo de relevo, clima e vegetação precisava de fotografias, desenhos, gravuras e muitos exemplos verbais. Em vez de simples mapas, o mundo passou a ser representado em bolas de isopor para facilitar a compreensão dos meridianos.
Maria Inês Vieira, coordenadora do Programa de Acessibilidade da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Derdic-PUC), explica o motivo da necessidade de rever o uso do quadro-negro. "Mesmo que o surdo já saiba ler e escrever em português, ele demorará mais para entender orientações por escrito", diz. A especialista ensina que o ouvinte entende a sequência de palavras escritas porque tem uma cultura prévia oral. Já quem não ouve está sendo apresentado ao português como um todo e não conhece a organização da língua. "Os conjuntos de palavras podem não fazer sentido na maneira como ele aprendeu a pensar. É como traduzir apenas as palavras de um texto em alemão ou chinês. Não é o suficiente para a compreensão do todo", diz. Em Florianópolis, a professora de Matemática Silvana Maria Soster teve outra reação no início do ano passado, quando foi informada pela direção da EM Luiz Cândido da Luz que uma de suas classes da 2ª fase do ciclo 2 (equivalente ao 5º ano, mas já com um docente por disciplina) teria quatro alunos surdos. "Tomei um susto. Nunca tinha passado por isso e pensei: será que posso?", conta. Para Roseli Baumel, educadora livre-docente especializada em Educação Especial da Universidade de São Paulo (USP), esse tipo de dúvida é natural. "Temos de ser honestos e admitir que não estamos prontos", orienta a especialista.



Recebi um aluno surdo. E agora?



Peça ajuda. Esse é o conselho da professora livre-docente Roseli Baumel, da Faculdade de Educação da USP. Ela divide esse S.O.S. em quatro partes:


Família A participação da família ajuda em qualquer caso, mas, se o aluno é surdo, a conversa precisa ser mais constante e aprofundada. Descubra como é a comunicação em casa, desde a linguagem utilizada até o que mais chama a atenção da criança.


Entidades Procure apoio em uma instituição que atenda os deficientes, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), no Rio de Janeiro. Muitos oferecem aulas de libras e dicionários da língua e auxiliam na escolha de materiais para facilitar o aprendizado. Enquanto a escola não tem sala de apoio, algumas ONGs podem dar aulas de libras e reforço às crianças no contraturno.


Professores Converse com outros docentes do aluno, de disciplinas diferentes ou anos anteriores. Procure repetir experiências de sucesso e pergunte também o que não funcionou para evitar os mesmos erros. Busque exemplos em outras unidades de ensino. "É preciso debater o ensino, fazer encontros e trocar informações", diz Roseli.


Governo Os alunos têm direito a um intérprete, e a escola, a materiais apropriados e a uma sala multidisciplinar. O governo também deve oferecer cursos de libras para os professores. As aulas devem ser dadas em faculdades que fazem convênio com o Ministério da Educação. Além disso, unidades com mais de 100 alunos podem pedir recursos para a montagem de uma sala de apoio pelo Programa Escola Acessível. Informações podem ser obtidas pelo telefone 0800-61-6161.

BULLYING CONTRA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA




A violência moral e física contra estudantes com necessidades especiais é uma realidade velada. Saiba o que fazer para reverter essa situação


Um ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros. Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor. É muito mais sério do que parece. Trata-se de bullying. A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões. Tais atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa. Em pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência. Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola.

Conversar abertamente sobre a deficiência derruba barreiras

Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma. "A fisionomia dele assustava as crianças. Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo outros encaminhamentos para o problema). Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele. Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo", conta. Hoje, com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da professora Maria do Carmo Fernandes da Silva. "A exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o trabalho de toda a equipe", afirma. De fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa pela abordagem clara e direta do que é a deficiência. De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento. Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência moral nem sempre fica restrita a ela. O Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação provocada por pais de alunos. Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido. A vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer uma reunião com todos eles. "Convidamos o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante para discutir a questão com esses pais. Muitos nem sabiam o que era esse conceito. A atitude deles foi motivada por total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."

Seis soluções práticas

- Conversar sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele.
- Adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário.
- Chamar os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão.
- Exibir filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam contextos positivos.
- Focar as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para integrá-lo à turma.
- Elaborar com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.

Antecipar o que vai ser estudado dá mais segurança ao aluno

"Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender." Maria Aparecida de Sousa Silva Sá, professora do CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, PB. Foto: Leonardo Silva
No CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, a 460 quilômetros de João Pessoa, a solução para vencer o bullying foi investir, sobretudo, na aprendizagem. Ao receber José, um garoto de 12 anos com necessidades educacionais especiais, a professora Maria Aparecida de Sousa Silva Sá passou a conviver com a hostilidade crescente da turma de 6ª série contra ele. "Chamavam o José de doido, o empurravam e o machucavam. Como ele era apegado à rotina, mentiam para ele, dizendo que a aula acabaria mais cedo. Isso o desestabilizava e o fazia chorar", lembra. Percebendo que era importante para o garoto saber como o dia seria encaminhado, a professora Maria Aparecida resolveu mudar: "Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender". Nas aulas seguintes, o aluno, que sempre foi quieto, começou a participar ativamente. Ao notar que ele era capaz de aprender, a turma passou a respeitá-lo. "Fiquei emocionada quando os garotos que o excluíam começaram a chamá-lo para fazer trabalhos em grupo", conta. Depois da intervenção, as agressões cessaram. "O caminho é focar as habilidades e a capacidade de aprender. Quando o aluno participa das aulas e das atividades, exercitando seu papel de aprendiz e contribuindo com o grupo, naturalmente ele é valorizado pela turma. E o bullying, quando não cessa, se reduz drasticamente", analisa Silvana Drago, responsável pela Diretoria de Orientação Técnica - Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Samara Oliboni, psicóloga e autora de tese de mestrado sobre bullying, diz que é preciso pensar a questão de forma integrada. "O professor deve analisar o meio em que a criança vive, refletir se o projeto pedagógico da escola é inclusivo e repensar até seu próprio comportamento para checar se ele não reforça o preconceito e, consequentemente, o bullying. Se ele olha a criança pelo viés da incapacidade, como pode querer que os alunos ajam de outra forma?", reflete. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente para os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia.

** Os nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade.
Fonte: Revista Nova Escola / Edição 228 /Dezembro de 2009 / Título original: Chega de Omissão

O que é deficiência auditiva?


O que é deficiência auditiva?

É a perda parcial ou total da audição, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou nas estruturas que compõem o aparelho auditivo.
A deficiência auditiva moderada é a incapacidade de ouvir sons com intensidade menor que 50 decibeis e costuma ser compensada com a ajuda de aparelhos e acompanhamento terapêutico. Em graus mais avançados, como na perda auditiva severa (quando a pessoa não consegue ouvir sons abaixo dos 80 decibeis, em média) e profunda (quando não escuta sons emitidos com intensidade menor que 91 decibeis), aparelhos e órteses ajudam parcialmente, mas o aprendizado de Libras e da leitura orofacial, sempre que possível, é recomendado.
Perdas auditivas acima desses níveis são consideradas casos de surdez total. Quanto mais agudo o grau de deficiência auditiva, maior a dificuldade de aquisição da língua oral. É importante lembrar que a perda da audição deve ser diagnosticada por um médico especialista ou por um fonoaudiólogo.

Como lidar com a deficiência auditiva na escola?

Toda escola regular com alunos com deficiência auditiva tem o direito de receber um intérprete de Libras e material de apoio para as salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Para isso, recomenda-se que a direção da escola entre em contato com a Secretaria de Educação responsável.
No dia a dia, posturas simples do professor em sala facilitam o aprendizado do aluno surdo. Traga- o para as primeiras carteiras e fale com clareza, evitando cobrir a boca ou virar de costas para a turma, para permitir a leitura orofacial no caso dos alunos que sabem fazê-lo. Dê preferência ao uso de recursos visuais nas aulas, como projeções e registros no quadro negro.

Para os alunos com perda auditiva severa ou surdez, a aquisição da Língua Brasileira de Sinais é fundamental para a comunicação com os demais e para o processo de alfabetização inicial. O aprendizado de libras ocorre no contraturno, nas salas de AEE.
É importante que professores da escola solicitem treinamento para aprender libras ou peçam o acompanhamento de um intérprete em sala. Isso garante a inclusão mais efetiva dos alunos.

Relacionamento pais/professores TDHA


Criar um filho com TDAH (DDA) pode ser incrivelmente desafiador para qualquer adulto. 

Pais e professores envolvidos na educação dessa criança ou adolescente devem redobrar seu empenho: terão que supervisionar, monitorar ensinar, organizar, planejar, estruturar, recompensar, guiar, colocando sempre os limites de forma clara.

 Nos aviões, quando pais estão acompanhados por filhos pequenos, a recomendação é:
"- Em caso de despressurização da aeronave, os pais devem colocar as máscaras em primeiro lugar e somente depois nas crianças"
Assim deve se dar no caso da TDAH (DDA): os pais devem rever-se (na grande maioria dos casos é hereditário), conhecer profundamente o transtorno, tratar-se para aprender e ter estrutura para lidar com seus filhos.

 Apesar da grande necessidade do portador sentir-se amado, aceito, protegido e compreendido, geralmente irá chamar a atenção de maneira pouco amável, senão desastrosa, já que se sente inadequado, diferente e com baixa auto-estima.
É preciso muito amor para enxergá-los através do seu comportamento, lembrando-se sempre de suas limitações e de suas reais necessidades.

 É vital para todo ser humano receber atenção, carinho e reconhecimento. Em função disso, todo comportamento pode ser estimulado, reforçado ou anulado através de 3 reforços:

1º - Reforço Negativo
São críticas, reprimendas, castigos, punições, etc., como reação a todo comportamento negativo, inadequado. Como no caso do TDAH (DDA) costumam ser muitos, é através desses reforços negativos que a criança/adolescente costuma receber atenção dos que os rodeiam gerando ressentimento e hostilidade na relação. Isso faz com que o comportamento negativo aumente (afinal é só assim que o notam). Essa hostilidade pode também levá-los ao isolamento.

2º - Reforço de Extinção
Se é vital para o ser humano ter atenção, carinho e reconhecimento, é mortal ser ignorado.
Para se anular um determinado tipo de comportamento, a melhor técnica é ignorá-lo. Se um comportamento não chama a atenção dos demais, provavelmente aos poucos será extinto.

3º - Reforço Positivo
São carícias físicas, palavras afetuosas, elogios e reconhecimento por comportamentos positivos. Esse tipo de reforço faz com que o indivíduo empenhe-se nesse padrão de comportamento positivo para continuar sendo notado, reconhecido e elogiado.

Dicas para mudança de comportamento
 Não usar reforços negativos, somente em último caso, para que os comportamentos negativos não sejam reforçados e aumentados.

 Usar reforços de extinção – um comportamento sem IBOPE provavelmente sairá do ar.

 Usar reforços positivos – Se a qualquer comportamento adequado (mesmo que para pais e professores não passe de mera obrigação), houver recompensa e/ou reconhecimento, esse tipo de comportamento tende a aumentar cada vez mais.

 Quando você quer mudar um comportamento indesejável, decida por qual o comportamento positivo quer substituí-lo. Depois de ter reforçado esse novo comportamento positivo freqüentemente por no mínimo uma semana, comece a punir o comportamento oposicional indesejável, com punições brandas, como por exemplo a perda de privilégios. Mantenha sempre a relação de uma punição para três ou mais situações de elogio e recompensa. A tendência é a extinção natural das punições.

 Infelizmente em face da dificuldade de lidar com filho/aluno com TDAH (DDA), os pais e professores podem perder a perspectiva dos seus objetivos. Podem tornar-se irritados, impacientes, confusos e enfurecidos quando suas tentativas iniciais não funcionarem.

 Respire fundo e lembre-se que o adulto, o técnico, o educador e treinador é você:
É necessário muita sabedoria e paciência para equilibrar amor com regras e limites claros na educação. O objetivo é preparar essa criança e/ou adolescente para viver em sociedade, sentindo-se integrado, com boa auto-estima, sabendo respeitar limites (seus e dos outros), regra fundamental para amar e ser amado.
Tente olhar de fora da cena, como se fosse um estranho imparcial, racional, sem qualquer envolvimento emocional. Enfoque o comportamento negativo, deficiente e destrutivo que você quer mudar, lembrando sempre que seu filho/aluno tem uma incapacidade, uma dificuldade, e não falta de caráter: ele(a) não consegue controlar o que fala ou faz e com certeza tem qualidades e potenciais a serem valorizados.

 É MUITO MAIS DIFÍCIL DECEPCIONAR ALGUEM QUE CONFIA EM NÓS.

Dicas de supervisão e controle adequado e positivo

 Pais/professores devem colocar limites claros e objetivos, dar instruções positivas e focadas, como por exemplo: "- Comece agora a lição de matemática", no lugar do vago "- Preste atenção!"

 Dê responsabilidades com tarefas simples para que se sintam necessários e valorizados.

 Sempre que possível motive-os com desafios viáveis, proporcionando avaliação freqüente.

 Desenvolva sistema de créditos, pontos ganhos por dia quando têm boas atitudes ou iniciativas. A penalidade é a perda de bônus a cada infração cometida. A gratificação são os prêmios a serem estabelecidos.

 Não provocar constrangimento nem menosprezar o filho/aluno por suas dificuldades, nem compará-lo com irmãos ou colegas, principalmente na frente destes.

 Usar criatividade e flexibilidade para gerar um programa pedagógico adequado às dificuldades do TDAH (DDA).

 Em sala de aula, colocar a criança/adolescente na frente, perto do professor(a) ao lado de colegas que não o distraiam.

 Proporcionar trabalhos em grupos pequenos e favorecer relações sociais.

 Lembrar-se da inabilidade em sustentar a atenção por muito tempo: 12 tarefas de 5 minutos cada, dão melhores resultados do que 2 tarefas de ½ hora.

 Mandar por e-mail as tarefas de casa, datas de trabalhos e provas para o aluno(muitas vezes ele(a) não consegue copiar tudo que foi colocado na lousa ou anotar o que foi falado em sala de aula.

 Favorecer freqüente contato entre pais, professores e profissional que cuida do filho/aluno.

Transtornos Emocionais na Escola



A escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional das crianças e adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário entre a família e a sociedade. É na escola onde a performance dos alunos pode ser avaliada e onde eles podem ser comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social. 

Com algum preparo e sensibilidade o professor estaria mais apetrechado do que os próprios pediatras, dispondo de maior oportunidade para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças.

Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais de suas vivências sociais e familiares.

Como exemplo de condição emocional intrínseca estão os problemas psíquicos inerentes à própria pessoa, próprias do desenvolvimento da personalidade, dos traços herdados e das características pessoais de cada um. Incluem-se aqui os quadros associados aos traços ansiosos da personalidade, como por exemplo a Ansiedade de Separação na Infância, os Transtornos Obsessivo-Compulsivos, o Autismo Infantil, a Deficiência MentalDéficit de Atenção. Incluem-se também os quadros associados aos traços depressivos da personalidade, como é o caso da Depressão na AdolescênciaDepressão Infantil , e outros mais sérios, associados à propensão aos quadros psicóticos, como a Psicose Infantil,Psicose na Adolescência e associados aos transtornos de personalidade, a exemplo dos Transtorno de Conduta, entre outros.

Entre as questões externas à personalidade capazes de se traduzirem em problemas emocionais, encontram-se as dificuldades adaptativas daAdolescência e Puberdade, do Abuso Sexual Infantil, os problemas relativos à Criança Adotada, à Gravidez na Adolescência, à Violência Doméstica, aos problemas das separações conjugais dos pais, morte na família, doenças graves, etc.

O preparo e bom senso do professor é o elemento chave para que essas questões possam ser melhor abordadas. A problemática varia de acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os traços pessoais de personalidade de cada aluno. De um modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência.

As crianças e adolescentes, como ocorre em qualquer outra faixa etária, reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que vêem à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas.

Erram, alguns professores menos avisados, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações ou, o que é pior, acreditar que submetendo indistintamente todos alunos às mais diversas situações, quaisquer dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da possibilidade do ridículo. Na realidade podem piorar muito o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou, em casos mais graves, não querer mais ir à escola.

Para as crianças menores, por exemplo, existem as ameaças ou a ridicularização pelas mais velhas, e esse sentimento de ridicularização é tão mais contundente quanto mais retraída e introvertida é a criança. Já, para os adolescentes, as ameaças de ansiedade geradas em ambiente intraclasse são o desempenho aquém da média nos times esportivos, nos trabalhos em grupo, as diferenças sócio-econômicas entre os colegas, as diferenças no estilo e nas possibilidades de vida, no vestuário, etc.

Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador (professor, dirigente ou staff escolar), ao menos uma boa dose de bom senso, quando não, uma abordagem direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e metodológico da prática escolar.

O tão mal afamado "aluno-problema", pode ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização docente passa a ser um fardo a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante. Para esses casos, o conhecimento e sensibilidade dos professores podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados.

1 - Fatores Extrínsecos capazes de causar Transtornos Emocionais
Jane Madders (Maders J - Relax and be happy. Union Paperbacks 1987) trabalhou com uma classe do curso primário e com seus colegas na elaboração de uma lista de fatos e acontecimentos importantes capazes de produzir transtornos emocionais. A partir de tais eventos Madders elaborou uma lista de gravidade relativamente decrescente, pois, o grau de importância desses eventos pode variar de acordo com a faixa etária:


Ranking dos eventos
1. Perda de um dos pais (morte ou divórcio)
2. Urinar na sala de aula
3. Perder-se; ser deixado sozinho
4. Ser ameaçado por crianças mais velhas
5. Ser o último do time
6. Ser ridicularizado na classe
7. Brigas dos pais
8. Mudar de classe ou de escola
9. Ir ao dentista/hospital
10. Testes e exames
11. Levar um boletim ruim para casa
12. Quebrar ou perder coisas
13. Ser diferente (sotaque ou roupas)
14. Novo bebê na família
15. Apresentar-se em público
16. Chegar atrasado na escola

A partir dessa lista, podemos ver alguns fatores aflitivos do dia-a-dia dos alunos. Por exemplo, observe-se que urinar na sala de aula é a segunda maior preocupação e, por comparação, um novo bebê na família aparece em 14o. lugar. Isso sugere que, para uma criança ou adolescente em idade escolar, as coisas que a depreciam diante de seus colegas podem provocar níveis mais elevados de frustração, estresse, ansiedade ou depressão.

O mesmo fenômeno pode acontecer com as minorias étnicas ou dos alunos culturalmente diferentes, como por exemplo, portadoras de sotaque. Evidentemente não devemos nunca esquecer que algumas crianças são mais vulneráveis a transtornos emocionais do que outras.

As variáveis ambientais, particularmente aquelas que dizem respeito ao funcionamento familiar, também podem influenciar muito a resposta das crianças e adolescentes aos estressores escolares e, conseqüentemente, ao surgimento de algum transtorno emocional. Há uma espécie de efeito de proteção exercido pelos bons relacionamentos familiares que se estende até a adolescência.


Separação dos Pais
Uma das mais comuns experiências ambientais, hoje em dia, capazes de determinar alterações emocionais nos alunos é a separação conjugal dos pais. Na escala de Madders vem em primeiro lugar.

Durante os momentos difíceis da separação conjugal, tanto os pais quanto, de um modo geral, a própria criança (um pouco menos, em relação aos adolescentes) esperam que os professores assumam uma atitude mais incisiva e uma maneira mais compreensiva e afetuosa ao lidar com o aluno emocionalmente abalado.

Mesmo quando os pais finalmente se separam, as crianças geralmente precisam de algum tempo (2 anos ou mais) para se adaptar à nova situação. Tudo leva a crer ser preferível que os pais que estão se separando deixem claro o rompimento, apesar desta atitude poder ser muito angustiante para os filhos, procurando oferecer explicações compatíveis com o grau de entendimento das crianças. 


As pesquisas sugerem que quanto menores forem os filhos, menos desejam a separação dos pais, ainda que o relacionamento entre eles seja bastante problemático. A maioria dos filhos pequenos prefere que os pais permaneçam juntos e, mesmo após o divórcio ou o novo casamento, ainda fantasiam a possibilidade de uma reconciliação. Elas passam por um processo semelhante ao da perda e do luto.

As crianças em idade escolar são perfeitamente capazes de observar e vivenciar qualquer clima de hostilidade e animosidade entre seus pais. Ainda que na fase pré-separação a tática de beligerância dos pais seja do tipo "agressão pelo silêncio", dependendo da idade da criança haverá percepção sobre o tipo de clima que existe entre o casal e que o casamento está atravessando sérias dificuldades. 

A auto-estima da criança é fortemente beneficiada pelo sentimento de fazer parte de uma identidade herdada dos pais (de ambos). Suas características geralmente são comentadas por amigos e parentes, comparando-a com os pais, e tornam-se parte da identidade pessoal da criança. 

Durante a separação e depois dela, as críticas que os pais fazem um ao outro podem levar a criança a sentir que parte da sua própria identidade também é ruim e sem valor. Freqüentemente, há uma dramática perda de auto-estima durante a separação e o divórcio e isso pode levar ao isolamento social, revolta, agressividade, desatenção, enfim, alterações comportamentais próprias de um estado depressivo (típico ou atípico). Essas alterações no comportamento do aluno podem ser considerados um aviso sobre a necessidade de ajuda e apoio.

O que pode melhorar a afetividade das crianças na separação conjugal dos pais são informações claras e homestas sobre o futuro. Mas nem sempre os próprios pais sabem muito a esse respeito, tornando a iniciativa dos professores nesse sentido muito mais difícil.

Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares pois, tanto o ambiente escolar quanto os professores, continuam constantes em sua vida durante esse período de grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito das dificuldades que enfrentam em casa (neste caso, a separação). Novamente, serão as alterações em seu desempenho e comportamento que denunciarão a existência de problemas emocionais.

A sensação de solidão, tristeza e a dificuldade de concentração na escola, tudo isso contribui para uma depressão infantil ou da adolescência, complicando muito o inter-relacionamento pessoal e o rendimento escolar. Pode haver dificuldade de concentração, motivação insuficiente para completar tarefas, comportamento agressivos com os colegas e faltas em excesso. Não se afasta, nesses casos, a necessidade dos professores orientarem algum ou ambos os pais para a procura de ajuda especializada para o aluno.