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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Indivíduos com Síndrome de Asperger têm oportunidades profissionais em empresas europeias


Muitos que possuem Síndrome de Asperger enfrenta dificuldades no mercado de trabalho e no emprego, mas essas pessoas têm também habilidades especiais que são procuradas por muitos empresários. Uma companhia dinamarquesa encontrou uma maneira de unir as duas coisas e está exportando o seu bem- sucedido serviço de busca de empregos para outros países.

Após trabalhar no centro de pesquisas Cern, próximo a Genebra, durante uma década, onde ele participava das tentativas de entender as origens do universo, Niels Kjaer, um físico de 49 anos de idade, retornou para a sua nativa Copenhague. Lá não havia classificados de jornais com empregos para pessoas que tinham doutorado em física de partículas, e ele não possuía contatos nas universidades locais. Como Kjaer sente dificuldade em interagir com outras pessoas, ele decidiu trabalhar como motorista de táxi em Copenhague. “O.k., tudo bem”, disse ele para si mesmo. “Eu trabalharei apenas durante a noite”. Seis meses depois, ele estava sofrendo de depressão.

Após ter constatado inúmeras vezes como o seu filho pequeno sentia dificuldade em se adaptar ao jardim de infância, Thorkil Sonne, diretor técnico da companhia dinamarquesa de comunicação TDC, e a mulher dele procuraram um psicólogo em busca de orientação. Em vez de dicas sobre como criar o filho, eles acabaram recebendo um diagnóstico. Segundo o psicólogo, o filho deles sofria da Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. O psicólogo disse também que pessoas com Síndrome de Asperger geralmente não têm problemas de concentração e possuem ótima memória, mas elas enfrentam dificuldades no campo social, o que faz com que seja difícil para elas rir de coisas engraçadas ou consolar pessoas que se sentem tristes.

De acordo com o psicólogo, essa dificuldade de se relacionar com outras pessoas faz com que as crianças que têm Síndrome de Asperger fiquem socialmente deslocadas.


Ao ouvir as palavras autismo e deslocado, o pai ficou chocado. O psicólogo disse que não havia muito a se fazer em relação ao caso.

Reconhecendo talentos frequentemente ocultos

Atualmente, Niels Kjaer, o físico de partículas, não está mais dirigindo táxis. E isso tem algo a ver com o fato de Thorkil Sonne não ter seguido o conselho do psicólogo. Em vez disso, ele decidiu que, na verdade, algo poderia ser feito pelas pessoas com Síndrome Asperger.


Em 2004, Sonne criou uma companhia em Copenhague chamada Specialisterne, cuja tradução é “Os Especialistas”. A companhia contrata pessoas como Kjaer e as insere em projetos, principalmente em companhias de tecnologia de informação, onde elas analisam softwares, gerenciam dados e escrevem programas.

Sonne diz que não criou a companhia por motivos filantrópicos. Ele desejava que o trabalho feito pelos seus funcionários tivesse importância, e que os talentos deles fossem reconhecidos – talentos que são difíceis de se descobrir em entrevistas de emprego formais.

Sonne garante que os seus funcionários recebem salários padrões da indústria. O seu objetivo de longo prazo é criar um milhão de empregos no mundo todo para pessoas com Síndrome de Asperger e outras desordens similares vinculadas ao autismo. A Specialisterne já tem escritórios na Islândia, na Escócia e na Suíça, e ela pretende criar um na Alemanha neste ano.

O que é a Síndrome de Asperger

Matthias Prössl entra em um café de Munique,  vindo direto do centro de empregos, onde um orientador explicou a ele como os empresários podem se beneficiar de subsídios e verbas do governo. Prössl deseja levar a ideia de Sonne da Dinamarca para a Alemanha. Este homem de 51 anos já foi um executivo da IBM. O seu filho mais velho foi diagnosticado como portador da Síndrome de Asperger seis anos atrás. Desde então, o mundo de Prössl deixou de girar em torno da profissão e da carreira.
Cerca de uma em cada 3.000 crianças tem Síndrome de Asperger, que é mais comum em meninos do que em meninas. Ainda não se entende bem a origem desse problema, embora os especialistas acreditem que ele seja causado por uma combinação de fatores genéticos, lesões cerebrais e alterações bioquímicas. Ao contrário do que ocorre em outros indivíduos autistas, a inteligência e a linguagem desenvolvem-se normalmente nas crianças que apresentam Síndrome de Asperger.
Na verdade, muitas delas começam a falar mais cedo do que as demais crianças, às vezes antes mesmo de aprenderem a andar. Elas logo passam a se interessar por um assunto favorito e mergulham nos seus próprios mundos, examinando mapas, listas telefônicas e horários de trens. Mais tarde, o interesse delas volta-se para tabelas periódicas, linguagens de programação ou, como no caso de Niels Kjaer, fórmulas da física de alta energia.



Porém, elas têm dificuldade em interpretar corretamente situações sociais e são incapazes de analisar apropriadamente expressões faciais, gestos e estados emocionais de outras pessoas. Além do mais, elas frequentemente evitam fazer contato direto com os olhos. Segundo a definição profissional, elas se caracterizam por uma “falta de reciprocidade social e emocional”.

Não há cura para a Síndrome de Asperger, embora o tratamento possa ajudar as pessoas que dela padecem a lidar com o mundo de uma forma um pouco mais efetiva. Os indivíduos que têm Síndrome de Asperger ou autismo não são capazes de manifestar empatia pelas emoções das outras pessoas, mas elas podem aprender que uma voz alta ou uma testa franzida significam raiva e irritação.

Ironias, piadas e metáforas geralmente não são entendidas pelos indivíduos com Síndrome de Asperger porque eles as interpretam literalmente. Por exemplo, a sentença “a minha cabeça está a ponto de explodir” pode fazer com que eles entrem em pânico.

Pessoas que entendem tudo de forma literal têm dificuldade para mentir, e a maioria das pessoas que têm Síndrome de Asperger é brutalmente honesta. Durante uma entrevista, ao se depararem com a pergunta, “Qual é a sua fraqueza?”, elas tendem a responder com toda a honestidade. De fato, elas não possuem a habilidade para se apresentarem de uma forma vantajosa. Como resultado, algumas delas conseguem se formar na universidade, mas acabam fracassando miseravelmente ao ingressarem no mercado de trabalho.

Atualmente o filho de Prössl tem 15 anos de idade. Como sofre de uma forma atenuada da Síndrome de Asperger, ele frequenta uma escola secundária normal. Quando ele começou a frequentar a atual escola, os seus pais falaram com alguns professores a respeito do problema de forma a evitar maus entendidos quando ficou claro que o filho deles tinha dificuldade para interagir com os outros alunos.

Muita gente que tem Síndrome de Asperger frequenta escolas especiais. “Isso não ocorre por eles terem dificuldades intelectuais, mas sim porque os grupos de alunos nessas escolas são menores”, explica Friedrich Nolte, da Sociedade Alemã de Autismo. Nas escolas normais, as pressões sociais muitas vezes são muito grandes para as crianças que têm Síndrome de Asperger. Elas acabam sendo vítimas de zombarias e de assédio, o que faz com que muitas delas acabem ficando deprimidas. “Eu não quero que o meu filho seja mandado para uma terapia ocupacional em vez de aprender o que ele pode fazer e aquilo que gosta”, diz Prössl. Mas qual é a melhor maneira de proporcionar a essas crianças uma boa educação e ajudá-las a ingressar em uma carreira?

O escritório principal da Specialisterne fica em uma zona industrial no oeste de Copenhague. As paredes e as portas são decoradas com pôsteres de filmes e cartões postais engraçados. Um Cubo de Rubik que foi solucionado por um dos funcionários está sobre uma mesa de trabalho.

Depois que o seu filho foi diagnosticado como portador da Síndrome de Asperger, Sonne diz que tornou-se um participante ativo da Associação Dinamarquesa de Autismo, onde ele e a mulher foram conhecendo gradualmente outras crianças que tinham o mesmo problema. Ele conheceu adolescentes que, apesar de serem inteligentes e competentes, estavam fracassando na escola. “Esses são garotos que respondem às perguntas dos professores em vez de ficarem brincando com as crianças que sentadas nas cadeiras vizinhas”, diz Sonne. “Mas isso não deveria ser motivo para que elas fossem obrigadas a frequentar uma escola para crianças com necessidades especiais, não é mesmo?”.

Sonne sabe por experiência própria como pode ser difícil encontrar funcionários atentos para detalhes, persistentes e precisos – exatamente as habilidades que ele observou nos jovens que têm Síndrome de Asperger. No entanto, nenhum deles tinha como colocar em prática os seus talentos.

“Eu queria aproveitar as características dos indivíduos autistas, não apenas por causa deles, mas também para beneficiar a economia”, explica Sonne. Ele criou a companhia em 2004 com um empréstimo que teve como garantia a hipoteca da sua casa. Atualmente a Specialisterne possui 33 empregados.

Sonne já ganhou vários prêmios internacionais como reconhecimento pelo seu compromisso com essa causa. Ele recebe perguntas de pais e pessoas com Síndrome de Asperger do mundo inteiro. Todo esse apoio o encorajou a implementar a sua ideia em outros países.

Vantagem óbvia para os empregadores

Quando lhe perguntam por que um empregador deveria contratar uma pessoa autista, Sonne diz que as vantagens proporcionadas por esses indivíduos são óbvias. “As pessoas com Síndrome de Asperger concentram-se melhor. Elas são mais precisas”, diz ele. “Essas habilidades constituem-se em uma vantagem em áreas como a de controle de dados. Outros profissionais dessa área perdem o interesse após a terceira tentativa, e depois disso os erros começam a surgir. Já o meu pessoal mantém-se superconcentrado mesmo após a décima tentativa”.



Sonne explica que essas pessoas precisam apenas de um pouco de ajuda com outras coisas. As pessoas portadoras da Síndrome de Asperger não têm nenhum senso de nuances, mas elas são frequentemente perfeccionistas. Quando acham que algo não faz sentido, elas geralmente fazem críticas diretas. Como tal abordagem pode provocar atritos no ambiente de trabalho, os funcionários de Sonne também recebem treinamento em etiqueta profissional. Eles aprendem por exemplo a trocar amabilidades com os colegas de trabalho e a fazer críticas de maneira diplomática. Sonne diz que com um pouco de consideração todo mundo se entende.

Na Dinamarca, funcionários da Specialisterne estão atualmente gerenciando projetos na Siemens, na Nokia e na TDC. Quando lhe é perguntado por que as pessoas autistas têm tanto envolvimento com computadores e são obcecadas por dados e pela ordem, Sonne responde: “Elas gostam de aderir a regras fixas e rotinas, e os computadores são congêneres bastante confiáveis quanto a isso”. Além do mais, a linguagem de computadores é logicamente estruturada e na maioria das vezes essas máquinas permanecem do mesmo jeito que se encontravam da última vez em que foram utilizadas.

Além disso, diz Sonne, as pessoas que um indivíduo encontra na Internet são mais previsíveis do que aquelas com as quais ele interage na vida real. Na Web, a maioria dos indivíduos escreve aquilo que realmente deseja dizer usando termos claros e exatos. Raramente é necessário ler nas entrelinhas, e a maioria das pessoas identifica a ironia em um smiley.

Niels Kjaer está sentado diante de uma mesa de trabalho em um escritório da Specialisterne, trabalhando em um programa de computador criado para ajudar a melhorar o controle de qualidade de ovos de galinha. O objetivo é detectar rachaduras nos ovos com uma câmera especial. Kjaer mostra imagens de ovos manchados, amassados ou rachados. Ele procura os ovos imperfeitos para removê-los.

Kjaer fez um longo percurso. Após o Cern ele dirigiu táxis e, finalmente, passou a fazer programas de computadores. Quando lhe perguntamos se ele está feliz, Kjaer não desvia o olhar da tela, e responde que ainda há muita coisa a ser aperfeiçoada no programa. “Aqui em cima, à esquerda”, diz Kjaer, apontando para um ovo. “Em breve será possível detectar essas pequenas rachaduras”.

É claro que ele não respondeu à pergunta. Mas talvez ele simplesmente a tenha entendido de uma forma completamente diferente.
 
 fonte: 
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2012/02/25/servico-de-busca-de-empregos-e-uma-excelente-noticias-para-individuos-com-sindrome-de-asperger.htm#comentarios

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